segunda-feira, 15 de junho de 2009

"Ambientalismo é Guiado pelo Medo", Entrevista de Patrick Moore

Ex-integrante do Greenpeace defende hoje energia nuclear e manejo sustentável

Roberta Jansen escreve para "O Globo":

Ele enfurece os ambientalistas tradicionais desde que deixou o Greenpeace - do
qual foi co-fundador e onde trabalhou por nove anos - e passou a defender a
energia nuclear como a grande solução para o combate ao aquecimento global.
Polêmico, Patrick Moore é atualmente diretor da NextEnergy Solutions, a maior
distribuidora de energia geotérmica do Canadá, e conselheiro do setor nuclear.

Ele participa, na terça-feira, no Rio, do XII Congresso Brasileiro de Energia,
patrocinado pela Indústrias Nucleares do Brasil e Eletronuclear, e do Fórum
Internacional de Energia Renovável, em Florianópolis.

- O senhor costuma dizer que o movimento ambiental não é guiado pela ciência.
Por quê?


Porque em muitas áreas não é mesmo. A produção de energia é uma delas. Muitos
grupos, o Greenpeace entre eles, defendem a eliminação da energia fóssil,
nuclear e hidroelétrica, que respondem por 99% da energia do mundo. Então não
acho que estejam sendo realistas, nem baseando suas opiniões em ciência. É
impossível eliminar tudo isso e ainda termos a nossa civilização. Eles dizem que
as energias renováveis são suficientes. Talvez estejam desinformando as pessoas,
contando histórias da carochinha impossíveis de serem atingidas. No caso dos
transgênicos é a mesma coisa. Não há evidência científica de que esses grãos
causem danos, mas sim de que são benéficos. E se recusam a ouvir isso. Muitos
são contra também o manejo sustentável das florestas. Então, não se baseiam em
ciência.

- O que guia o movimento ambiental hoje? Interesses políticos, industriais?

O movimento ambiental se tornou uma indústria global. Não sou contra isso. O
ambientalismo é guiado hoje por campanhas de desinformação e medo, nas quais não
há ciência para embasar. A maioria dos militantes é ingênua, acredita naquilo.
Mas os líderes lançam essas campanhas apenas para arrecadar fundos. Não há
problema em arrecadar fundos, desde que não seja baseado em desinformação. Acho
que a tendência é que percam credibilidade ao não ouvirem a ciência, mas isso
leva tempo ainda.

- Quando foi que o senhor mudou de idéia a respeito da energia nuclear? Por que
isso aconteceu?


Nos 90, por conta das mudanças climáticas. Acho que, de qualquer forma, reduzir o
uso de combustíveis fósseis é uma boa idéia. E é uma boa idéia também para a
saúde da população, para a conser vação. E ampliar o uso da energia nuclear é a
melhor forma de fazer isso. A nuclear é a única que pode ser usada em larga
escala para a redução das emissões porque é viável do ponto de vista econômico
e, ao mesmo tempo, atende à crescente demanda por energia. Uma das coisas mais
irônicas hoje é que, como o movimento ambiental é contra a energia nuclear e a
hidroelétrica, que poderiam reduzir em muito o uso de combustíveis fósseis, ele
é hoje o maior entrave para essa redução. Por que a energia solar e a eólica não
seriam a solução? E a hidroelétrica? Moore: Não dá para fechar uma usina de
carvão, por exemplo, contando com energia solar e eólica. Precisamos de energia
quando não estiver ventando e à noite. Mas a energia nuclear pode substituir
sim. Ela não é apenas a melhor alternativa hoje, mas para o futuro também. A
hidroelétrica depende da capacidade dos rios. O Brasil tem sorte. Mas há nações
que não têm isso.

- Muitas pessoas o acusam de ser pautado pelos interesses da indústria nuclear.
O que o senhor diz?


Eu digo as coisas que eu digo porque acredito nelas. Em minhas apresentações
exponho as minhas próprias opiniões baseadas em fatos. Estudo seriamente esse
assunto há quase 40 anos, sou reconhecido por meu conhecimento nessa área. Eu
sei o que as pessoas dizem, mas isso não é verdade. Eu apóio a energia nuclear
porque acho que ela é a solução para um futuro sustentável. E faço isso por
razões ambientais: a energia nuclear não mata gente todos os dias como as
emissões de combustível fóssil. É uma energia limpa, seus resíduos não são
jogados no meio ambiente, como os do carvão por exemplo.

- Mas os resíduos nucleares são uma das maiores preocupações.

Os resíduos não são um problema porque sabemos onde eles estão e sabemos que
estão em segurança, isolados, não sendo lançados no meio ambiente.

- O senhor defende o plantio de árvores para o uso da madeira. Todo o movimento
ambiental quer matar o senhor?

Bem, eu acho que eles discordam de mim. E eu também acho que eles estão errados.
Acho que deve haver reservas, áreas protegidas sim. Mas também precisamos de
madeira para a nossa civilização, para fazer casas, móveis, papel. E é bom
porque é um recurso renovável. Por que não maximizar o volume de madeira de
forma sustentável? Precisamos plantar mais árvores para, então, usá-las.

- O Brasil está entre os maiores emissores de dióxido de carbono graças ao desmatamento da
Amazônia. Isso não é uma má idéia?


Acho que precisamos plantar mais árvores. Mas acho que o desmatamento da
Amazônia vem sendo exagerado. Mais de 80% da floresta estão de pé. Em que outra
parte do mundo se vê isso? Em lugar nenhum. E a maior parte da área desmatada é
para a agricultura. Acho que ninguém está queimando a floresta porque é
divertido. E não vejo nenhum mal nisso se você tem áreas protegidas - quesito no
qual o Brasil é campeão. O país tem uma das melhores legislações do mundo sobre
uso da terra, tem um alto nível de preocupação ambiental. Mas é mostrado
internacionalmente pelo movimento ambiental como um país que está destruindo sua
floresta. Resumindo, acho que o país está sendo tratado de forma injusta, mas
acho também que os brasileiros têm um complexo de inferioridade forte. Acham que
são ruins quando, na verdade, estão fazendo coisas melhores do que o resto do
mundo. O país tem 95% de sua energia proveniente de hidroelétricas e boa parte
dos carros movida a álcool, deveria estar orgulhoso disso.

(O Globo, 14/11/08)

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